[Toranja-021] Mangia Che Ti Fa Bene!
Ou o que seus hábitos alimentares revelam sobre seus personagens?
Quinta passada, na hora do almoço, comendo a epítome dos Pratos Feitos cariocas, me bateu o quanto a culinária é o último bastião das cada vez mais pasteurizadas culturas locais. Entre os passeios turísticos, que falam de cidades que não existem mais, e os shows folclóricos, que remetem a uma versão idealizada de um passado que nunca houve, uma das poucas maneiras de experienciar a verdadeira essência de um local, além de ser vítima de um crime ou se submeter ao insano ritmo de trabalho dos moradores, é comer a comida local.
A comida típica, ou melhor, a comida do dia a dia pelos cidadãos, não são os pratos que te oferecem com a naturalidade como sobrenome. A comida cotidiana é carregada de história: cheiros, pedaços, imagens do cotidiano das cidades e de suas pessoas.
Através dessas comidas é possível entender o que é morar naquele lugar, quais são as suas aspirações, o que lhe conforta e qual é o seu gosto preferido. Vivemos numa cidade ácida, doce, amarga, ou gordurosa?
Quando morei em Belo Horizonte (Lisandro), trabalhei numa equipe formada por pessoas de vários estados do Brasil, e uma jornalista da área de comunicação costumava dizer que Minas Gerais era um lugar infantil por conta do seu paladar. Tudo era muito doce, muito salgado, muito picante, ou muito amargo. Não havia espaço para sutilezas na culinária mineira, e, por conseguinte, nem nos costumes e relacionamentos.
Eu (Paula) que vim da beira do mar, sinto saudade desse cheiro nas comidas agora que moro em São Paulo. A maresia faz parte da personalidade maratimba, quer alguém goste de moqueca ou não. O tom solar pinta as relações naquele lugar, as dinâmicas entre as pessoas e os locais. Todas as vezes que visito a cidade natal, percebo: as camisetas aqui podem ser mais coloridas. E um estranho alívio nostálgico me abraça: estou em casa.
Então, depois de comer esse belo filé na brasa, com farofa de ovos, feijão preto (com pimenta malagueta) à parte, batata frita e molho à campanha, do histórico Galeto Liceu, me liguei de como a comida pode ser uma boa maneira de analisar e descrever os seus personagens.
obs: capixaba que sou (Paula), chamo o molho campanha de vinagrete e compartilho a paixão pelo feijão preto, tão raro aqui em São Paulo. Ah, uma última coisa: se você gosta de comer, não deixe de assinar a newsletter Prato feito do
<3Então, o nosso desafio da Toranja de hoje é sobre comida!
EXERCÍCIO #21
Esse vai ser um dos nossos melhores exercícios, pois envolve uma das melhores coisas do mundo: comer. Então vamos a ele.
Escolha um restaurante da sua cidade com pelo menos 50 anos de funcionamento. E tem que ser um restaurante à la carte. Restaurantes a quilo, fast food ou entregas de aplicativo são as forças que destroem a culturas culinárias locais.
Sente-se, abra o menu com calma, escolha sua bebida e seu prato, e busque dentre as demais mesas por um casal.
Preste atenção no que eles pediram. Pediram a mesma coisa? Pediram um prato para dividir? Pediram pratos diferentes mas parecidos, ou totalmente iguais?
Agora tente intuir as personalidades dessas pessoas a partir do que comem. Faça a contraposição entre seus pratos e como isso é representativo da sua relação.
Observe como eles comem. Misturam a comida? Comem primeiro a batata, por exemplo, para depois atacar o resto do prato? Pedem acompanhamentos ou molhos extras? Limpam o prato ou deixam algo? Pedem pra levar o resto pra viagem?
Pronto! Você já tem seus personagens. Agora vá pra casa, ou no restaurante mesmo, escreva sobre esses personagens, e a sua relação, usando a refeição como metáfora, ou como palco para seus conflitos e interações.
Pau que dá em Chico dá em Francisco. Depois não deixe de fazer o mesmo exercício pensando em você. Como você é baseado no que você come?
E bom apetite.
E você? O que você vai fazer nessas férias?
Eu não sei vocês, mas eu (Lisandro) vou escrever.
Tradicionalmente, quando chegam às férias escolares, eu também tiro as minhas pra evitar que a minha filha passe todo o período perdida nas selvas tóxicas dos aplicativos do Meta. Esse ano, como em alguns períodos anteriores, eu costumo conduzir uma micro oficina de Escrita Criativa, para amigos corajosos e para que o meu merecido descanso não passe em branco.
A oficina desse ano vai ser focada em Literatura Pulp. Intrigante, não? Então, clica aqui e saiba mais sobre essa loucura.
Te espero lá!
Ah, não esqueça de compartilhar suas criações em suas redes sociais usando a hashtag #toranjanews ou as enviando para o e-mail extoranja@gmail.com
BONA TO VADA!
Quando Toranja virar livro, eu quero! 😍