[Toranja-002] Coma suas crias
Para engajar em processos de criação, devemos respeitar os elos dessa cadeia. Quem escreve, precisa ler. Quem pinta, precisa visitar outras obras. Quem filma, precisa constantemente refrescar o repertório cinematográfico. Quem toca, provavelmente está quase sempre ouvindo músicas.
O processo de criar algo parece sempre incluir uma etapa inicial - revisitada muitas vezes! - de consumo. Sejam palavras, imagens ou sensações.
E a comida? Será que o ato de comer, enquanto uma experiência multissensorial, também pode nos tornar mais criativos? Acho bem possível, mas não confie em mim, gente bem mais séria do que eu tem pesquisado o assunto cientificamente. A conclusão deles? Comer não alimenta apenas os nossos corpos, mas também as nossas imaginações.
Então, mangia che te fa bene!
EXERCÍCIO #2
Qual é a sua comida preferida? Você sabe cozinhá-la? Ótimo!
Não? Sem problemas, procure a receita na internet. Canais como Panelinha da Rita Lobo ou o Nossa Cozinha da Paola Carosella são boas referências. Ou jogue na sorte no primeiro resultado do seu buscador. ;)
Agora, vá ao mercado ou à feira, compre os ingredientes necessários para fazê-la. Coloque sua cozinha em ordem, chame algumas pessoas que ama para partilharem dessa experiência e mão na massa (ou no arroz, alface, etc)! Preste muita atenção a todo processo, desde as compras até os pratos estarem limpos.
Satisfeita? Pronto. É hora de fazer o seu registro para o mundo: escreva uma ode, uma música, uma crônica; faça um desenho, pinte uma aquarela; ou filme um curta metragem. Mostre, da maneira que sentir vontade, o que sentiu durante essa criação gastronômica.
Ah, não esqueça de servir essa sensação a seus convidados! Aposto que eles vão querer repetir.
ANTERIORMENTE EM TORANJA…
Semana passada, desafiamos você a construir um texto ou um poema, contendo apenas palavras que começassem com a mesma letra. A primeira contribuição que recebemos, vinda de Gabriela Serpa, já nos encantou:
Todo dia
Mandioca acorda e com os olhinhos mais pretinhos
Me olha e boceja com a bocona cheia de dentinhos
Mexendo o rabo para lá e para cá pula no colinho
Movendo sem sossego a cabeça e o corpinho
Mudando de um lado para o outro parece bêbada de vinho
Mas ela não bebe então é só alegria de cãozinho
Uma outra contribuição que nos maravilhou foi a da Bia.
Mas pera lá, elas não seguiram exatamente o desafio! Exatamente, elas não seguiram exatamente o desafio e assim mesmo o cumpriram belamente. Recebemos outras contribuições parecidas com essas, o que nos fez pensar sobre como uma proposição traz múltiplas interpretações.
Reparem que Gabriela usou a repetição da letra apenas no início de cada verso, em vez de em todas as palavras, e introduziu algo que não tínhamos sugerido: a repetição de um mesmo fonema no final dos versos para estabelecer a mesma rima em todo o poema.
Com isso, criou uma sonoridade e ritmo fortes que trouxeram a sensação de felicidade quase infantil de ter um cãozinho brincalhão.
Já a Bia usou a letra S em quase todas as palavras, mas não em todas, e trouxe um incrível elemento visual, não pedido, para complementar seu poema e explicitar esse mundo dos sonhos que ela nos permitiu acessar sonora e visualmente.
A lição que fica: os desafios são sugestões e criar a partir deles, às vezes, irá envolver quebrar regras. E isso é ótimo.
Se no meio de um desafio sua criação der uma guinada, siga a sua imaginação e não olhe para trás. Não se preocupe, não vai ter uma polícia da Toranja batendo na sua porta para reclamar da bagunça. Na verdade, ficaremos muito felizes, pois o desafio ativou algo novo e totalmente seu nesse processo.
Então, apesar de não precisar quebrar todas as regras, como Peter Frampton, saiba, baby, que sempre adoraremos o seu jeito de fazer as coisas, Marie de Salle style.
Não esqueça de compartilhar suas criações em suas redes sociais usando a hashtag #toranjanews ou as enviando para o e-mail extoranja@gmail.com
BONA TO VADA!
E até a próxima experiência!